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O peso que afunda a vida nasce das águas não cuidadas da alma!

O naufrágio começa por dentro, e a salvação também

Querida Alma Amiga, estava lendo uma frase que achei muito profunda e significativa, "A água que afunda o barco não é a que fica do lado de fora. O que realmente afunda é a que entra, a que se acumula por dentro". Essa imagem, tão simples e tão verdadeira, fala diretamente da alma humana. Nada do que acontece fora tem força suficiente para nos destruir. O que pesa, o que machuca e o que nos puxa para o fundo é aquilo que deixamos entrar no coração, muitas vezes sem perceber.

A psicanálise mostra que cada pessoa carrega dentro de si um universo inteiro feito de lembranças, dores, sonhos e medos. Quando algo não é elaborado, quando uma ferida antiga é empurrada para o fundo, ela não desaparece. Fica ali, silenciosa, como aquela água que começa a se acumular no casco do barco. Aos poucos, sem que a pessoa note, a vida vai ficando pesada. A tristeza aumenta, a esperança diminui, a força enfraquece. E então a pessoa pensa que foi o mundo que a derrubou, quando na verdade o que a derruba é o que ficou guardado demais dentro dela.

Jesus também falou disso com uma clareza que atravessa o tempo. Ele ensinou que não é o que vem de fora que contamina, mas aquilo que nasce de dentro da pessoa. Ou seja, não é o insulto que fere, mas a mágoa que fica. Não é o abandono do outro que aprisiona, mas aquilo que nós passamos a acreditar sobre nós mesmos a partir desse abandono. Não é a injustiça que destrói, mas o ressentimento que escolhemos alimentar. A alma pesa quando decidimos carregar o que não precisava ser carregado.

Quando Jesus disse para oferecer a outra face, muitos entenderam como um convite à fraqueza. Mas na verdade é um convite à força mais profunda que um ser humano pode ter. Oferecer a outra face significa não permitir que o mal do outro se torne mal dentro de você. Significa não deixar a raiva do outro se transformar na sua própria raiva. É impedir que a água do ódio e da violência atravesse o seu barco. É um gesto de liberdade emocional, não de submissão.

A psicanálise fala exatamente dessa mesma liberdade, mas com outras palavras. Ela mostra que, quando vivemos apenas reagindo ao que o mundo faz conosco, ficamos presos em uma espécie de escravidão emocional. Perdemos o leme da própria vida e deixamos que os acontecimentos decidam quem somos. É só quando olhamos para dentro, quando reconhecemos o que sentimos, quando nomeamos nossas dores e damos espaço para nossas verdades internas, que voltamos a ter direção. Navegar deixa de ser um sofrimento e volta a ser uma travessia.

Muitas vezes a água que entra no barco são palavras antigas de alguém que amamos e que nos feriu sem querer. Outras vezes são acontecimentos da infância que ficaram sem explicação. Pode ser um trauma, pode ser uma culpa que nunca foi trabalhada, pode ser um medo que foi crescendo sozinho. São águas que entram devagar e vão ocupando espaço. A pessoa não afunda de repente, afunda aos poucos, quando perde de vista quem realmente é.

Jesus sabia disso quando dizia para vigiar o coração. A vigilância de que Ele fala é a mesma atenção que a psicanálise recomenda. É olhar para dentro, perceber o que está nascendo dentro de si, notar quando uma mágoa começa a se formar, quando um medo começa a crescer, quando uma lembrança antiga volta a pedir cuidado. E junto dessa vigilância, Ele ensinou a orar. Orar é abrir espaço para que Deus entre onde antes só havia dor. É permitir que a luz toque aquilo que estava esquecido. É conversar com o próprio espírito até que ele encontre descanso.

A cura verdadeira acontece quando os dois caminhos se encontram. A psicanálise nos convida a escutar nossa própria alma, a reconhecer nossos conflitos, a tirar a água que se acumulou. Jesus nos convida a entregar essa água, a soltar, a confiar, a deixar que a graça restaure aquilo que foi quebrado. São caminhos diferentes que se tocam no ponto mais profundo do ser.

Esse universo de lembranças, na verdade não deve ser esquecido, pois eles formaram o que você realmente é hoje, o necessário é compreender, pois a criatura que você é hoje, com certeza não é a mesma do passado, portanto o entendimento é essencial para você poder liberar.

No fim, aprender a lidar com a vida é aprender a lidar consigo mesmo. As tempestades sempre existirão. Os ventos fortes continuarão soprando. Mas nada disso tem poder sobre quem está inteiro por dentro. O barco continua firme quando o coração está limpo, quando a mente está clara, quando a alma está cuidada.

A água que afunda o barco é a que entra sem permissão. Quando aprendemos a vigiar o que deixamos entrar e quando aprendemos a esvaziar o que já entrou, a vida volta a fluir. O peso diminui. A clareza retorna. O caminho se abre. E então descobrimos que não nascemos para afundar, mas para atravessar. Para seguir. Para crescer. Para florescer. Para viver em paz, mesmo quando o mar está agitado.

Esse é o encontro entre a psicanálise e o ensinamento de Jesus. Ambos dizem que a verdadeira batalha é dentro. Ambos dizem que a verdadeira cura começa quando a alma é escutada. E ambos mostram que, quando o interior se acalma, nenhuma força do mundo é capaz de afundar o barco da vida.

Com Carinho, Carlos Rondini, em 11/2025.
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