O poder da fé está na sinceridade, não na repetição...
A oração não é um ritual, é um encontro. É quando o ser humano se reconhece pequeno diante da grandeza divina e, mesmo assim, percebe que é profundamente amado. É o instante em que o espírito se recolhe e o coração se abre para conversar com Aquele que conhece nossos segredos mais profundos. Jesus nos ensinou que Deus é Pai, e um pai amoroso não precisa de intermediários para ouvir seus filhos.
Quando oramos, não enviamos recados por santos, anjos ou padres. Podemos nos sentar espiritualmente no colo de Deus e desabafar nossas dores, confessar nossas culpas, agradecer pelas bênçãos e pedir forças para continuar. O Espírito Santo é quem nos auxilia nessa comunhão, intercedendo por nós com gemidos que não se expressam em palavras, como ensina Paulo em Romanos capítulo oito.
Na cruz, o véu do templo se rasgou. A separação entre o homem e Deus foi rompida pelo sangue de Jesus. Desde então, nenhum sacerdote terreno tem poder para ser ponte exclusiva entre o Criador e seus filhos, porque o próprio Cristo se fez o caminho. Ele nos deu acesso direto ao coração do Pai. Hebreus capítulo dez nos lembra disso com uma clareza divina.
O perdão dos pecados pertence apenas a Deus. Nenhum homem, por mais santo que pareça, pode conceder o perdão que só o arrependimento sincero alcança. Jesus nos convidou a perdoar uns aos outros, mas o perdão que restaura a alma e reconcilia o espírito com o eterno vem do Pai. Em Primeira João capítulo um, está escrito que se confessarmos nossos pecados a Ele, Ele é fiel e justo para nos perdoar. O perdão humano é para curar relações, o perdão divino é para salvar almas.
A penitência e os votos que muitos fazem com a intenção de agradar a Deus não são moedas de troca. Nada que façamos pode pagar o preço que já foi quitado na cruz. O sacrifício de Jesus é completo e eterno. Ele nos libertou da necessidade de provar merecimento. A graça é dom, não prêmio. É presente que se recebe com humildade, não conquista que se alcança com esforço.
Quando alguém promete deixar de comer algo ou andar longas distâncias para alcançar um milagre, esquece que o amor de Deus não se compra. Milagre não é recompensa, é expressão da misericórdia. Jesus mesmo disse que se crermos, veremos a glória de Deus. Crer é confiar, é entregar, é descansar na certeza de que Ele cuida de tudo.
A fé que agrada a Deus não se apoia em boas obras isoladas, mas em um coração transformado. As boas obras são frutos dessa transformação, não caminhos de salvação. A salvação é pela graça, por meio da fé. Nenhum ato humano pode acrescentar ou diminuir o que Cristo já consumou. O verdadeiro mérito é dEle, não nosso.
Maria, mãe de Jesus, foi escolhida entre todas as mulheres para uma missão santa e sublime. Ela é exemplo de fé, de entrega e de humildade. Mas a redenção pertence unicamente ao Filho. Ele é o Salvador. Maria apontou para Ele e não para si mesma. Toda sua grandeza está em ter dito sim à vontade de Deus e em continuar a inspirar os corações a fazer o mesmo.
Ao longo da história, muitos homens interpretaram a fé de maneiras distantes do Evangelho. Houve tempos em que a religião se tornou instrumento de poder, e a voz do amor se perdeu no barulho da autoridade humana. Mas o Cristo vivo nunca deixou de falar aos corações simples. Ele permanece chamando cada um de nós a viver a fé com pureza e verdade, sem orgulho, sem disputa, sem medo.
A espiritualidade que Jesus nos ensina é um caminho de liberdade interior. É olhar para o outro com compaixão, é viver a justiça, é amar a misericórdia e andar humildemente com Deus, como diz o profeta Miquéias. Ser espiritual não é seguir dogmas, é viver o amor em cada gesto. É perdoar, é acolher, é ouvir, é servir.
O mundo ainda tenta complicar o que é simples, mas o Evangelho é simplicidade pura. Jesus nos mostrou que o maior mandamento é amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a nós mesmos. Nisso está toda a lei, todos os profetas, toda a verdade. Quando amamos, oramos com sinceridade. Quando perdoamos, libertamos a alma. Quando acreditamos, o impossível se torna possível.
O chamado de Cristo é um convite para retornar à essência. Para deixar os ritos vazios e viver a fé como relação viva, feita de confiança, arrependimento, gratidão e amor. É caminhar em direção à luz, sabendo que o Pai está sempre de braços abertos.
Não é sobre mérito, é sobre graça. Não é sobre repetições, é sobre verdade. Não é sobre religião, é sobre relacionamento. E não é sobre distância, é sobre o amor que nos une a Deus, agora e para sempre.
Com carinho Carlos Rondini, em 11/2025.
%20(4).png)